
Tomada de decisão: o problema invisível (e urgente) das organizações
Por Constanza Hummel
Sócia-fundadora e CEO da Building 8
Como consultora e CEO da Building 8, me relaciono diariamente com líderes dos mais diversos mercados — farmacêutico, varejo, tecnologia, agro, educação... E posso afirmar com toda a clareza: a maioria das organizações tem um problema sério com a forma como as decisões são tomadas. E poucas se dão conta disso.
Não é falta de boa vontade. É falta de método, repertório e principalmente de consciência. A verdade é que, no ambiente atual, decidir se tornou um exercício de sobrevivência. E muitos líderes estão falhando.
A psicologia por trás das decisões ruins
Daniel Kahneman, psicólogo ganhador do Nobel de Economia, nos mostra que usamos dois sistemas para decidir:
- Sistema 1: rápido, automático, intuitivo.
- Sistema 2: mais lento, racional e que exige esforço.
O problema? Mais de 90% das decisões são tomadas pelo Sistema 1, o famoso “piloto automático”. Isso, num cenário complexo, acelerado e cheio de ruído, é quase um convite ao desastre.
Mas mesmo quando não é um desastre de curto prazo, decisões repetitivas e automáticas demais impedem a organização de sair do lugar, inovar, se desafiar e crescer. É como dirigir com o freio de mão puxado: você até se move, mas com esforço e sem chegar muito longe. Em tempos de mudança constante, ficar parado é o novo andar para trás. E perder valor, relevância e vantagem competitiva também é um desastre — só que disfarçado de rotina.
Mas por que isso deveria te preocupar agora?
Porque decisões ruins não deixam rastros evidentes de imediato. Elas se acumulam como camadas invisíveis de ineficiência e desalinhamento. Até que o impacto vem, e vem grande:
- Projetos com escopo errado
- Contratações equivocadas
- Falta de foco no que realmente importa
- Iniciativas que não se sustentam
- Gente desmotivada porque ninguém ouve
E mais: culturas inteiras são moldadas por decisões mal tomadas.
Quer um dado para tirar o sono?
Segundo dados publicados na Exame, empresas com líderes que tomam decisões com base em dados, reflexão e escuta ativa têm até 5x mais chance de atingir suas metas.
Ah, fala sério... CINCO vezes mais!!!!!
Talvez o problema não seja sua estratégia. Talvez sejam as decisões.
Muitos líderes que acompanho estão constantemente resolvendo o urgente, tomando decisões no calor do momento, apagando incêndios... e acreditando que isso é “agir com agilidade”. Mas agilidade sem discernimento é pressa. E pressa constante vira erro.
Você sente que esse é um problema na sua organização? Aqui vão alguns sinais:
- Os mesmos erros se repetem em decisões importantes
- Falta espaço (ou método) para analisar cenários com profundidade
- Tudo vira urgência, o tempo todo
- As áreas decidem isoladamente, sem visão do todo
- Existe um medo constante de errar — o que paralisa
E o que pode começar a mudar esse cenário?
Não existe fórmula mágica, mas existem caminhos possíveis. E eles passam por:
- Criar repertório de decisão — com base em dados, pessoas e contexto
- Trabalhar a inteligência emocional dos líderes — sim, isso muda tudo
- Incluir rituais simples e estratégicos para decidir melhor em grupo
- Desenvolver o que chamo de “musculatura decisória” nas equipes
No próximo artigo, vou aprofundar o COMO — métodos, ferramentas, exercícios práticos e o papel central da inteligência emocional nas decisões de líderes e times!
Mas hoje, o mais importante é abrir os olhos: sim, esse problema existe. E não dá mais pra deixar pra depois.